segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A foto da mamãe.

Sempre que Luísa mexe na carteira da vovó, olha para uma foto de bebê e pergunta quem é. A vovó responde que é a mamãe. Ela olha para mim, olha para a foto e fica calada, decerto achando estranho que a vovó diga que aquele bebê é a mãe dela.

Ontem, quando pegou a foto, olhou para mim e falou:

- Olha, a foto de uma bebê chamada mamãe.

Muito fofa, não acham?

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Feliz Natal!

           Feliz, pois Eduardo está muito tranquilo aqui em Fortaleza. Depois de alguns episódios de choro sem explicação (que ele não tinha há algum tempo), e de ficar isolado no começo, meu filho sorri, brinca, corre, abraça muito a tiDéa e o tio Marcus, falou vovô (uouo) quando foi sozinho para a casa dele - elegendo mais um porto seguro, já abraça sem que precisemos insistir. E seus beijos, que fofura.

          Luísa continua aprontando, encantando a família, os amigos, os desconhecidos (risos).


          Então eu fico aqui, toda boba, certa de que o amor supera tudo mesmo. Estamos cercados de amor dos que também amamos tanto. Eduardo sente isso e continua evoluindo, mesmo longe de sua rotina, mesmo de férias das terapias, mesmo com tantas pessoas diferentes.

        Estamos no apartamento da minha irmã e o prédio tem um parquinho e muito espaço. Eduardo brinca no escorregador, no balanço, tenta interagir com outras crianças e corre muito, como ama fazer. Já brincou na piscina e correu para o mar. Como ele gosta do mar. Luísa brinca e puxa conversa com todas as pessoas que encontra.


          O período de festas evidencia os ciclos: tudo tem começo, meio, fim. Das boas fases, começo e meio a gente até que leva bem, porém, tudo finda, o que é quase sempre necessário para as novas etapas. Agora, estamos perto do encerramento de mais um ano. Pouca coisa muda do dia 31/12 para o dia 01/01. Nada? Quase nada? Não, ainda acredito que a passagem do ano muda algo que até pode ser imperceptível, entretanto, definirá o ano de 2012: a esperança de que seja o melhor de todos os anos, que seja um ano perfeito.

        É exatamente no auge da esperança o momento em que acreditamos que podemos tudo. Bom acreditar, melhor ainda perceber que podemos, sim.


         No Natal de 2010 eu estava destruída. Eu encontrei familiares, vi vídeos, participei de brincadeiras de trocas de presentes, dei abraços, recebi votos natalinos. Confesso que meu espírito não estava ali. Eu era uma sombra, atropelada pela realidade, caída. Eram muitas mãos amigas estendidas, prontas para ajudar, entretanto, eu não queria levantar. Eu queria ficar ali, escondida do mundo, recolhida, apenas tentando entender os motivos, as escolhas, mais, tentando prever o que seria dali para frente. Para frente? Eu só via o passado e temia o futuro. Eu via um grande sonho, eu via o dia mais feliz da minha vida (o primeiro em que vi aqueles que faziam a festa dentro da minha barriga), eu me via realizada, mãe, mãe de gêmeos, uma felicidade jamais imaginada, ainda que tão desejada. Eu via e revia o exato momento em que toda felicidade havia desmoronado. Por falta de conhecimento, por não entender, eu via um futuro de estagnado.  

         Porque, até o dia do diagnóstico, eu rezava todas as horas para estar errada, para que não houvesse nenhum problema com meu filho, para que todos aqueles profissionais estivessem certos quando diziam que eu estava apenas comparando dois bebês (motivo de toda a angústia), que não havia nada daquilo que eu questionava sobre o desenvolvimento do meu filho. Eles eram formados naquilo, eu era apenas mãe. Descobri que toda a formação profissional é inerte quando não são considerados os relatos e preocupações das pessoas que realmente convivem com os pacientes além daqueles minutos de consulta. 

        Mesmo assim, com a dúvida apertando o meu peito, enquanto apenas eu questionava o que acontecia com Eduardo, era fácil ficar em pé, seguir vendo e sonhando não ver, olhar para o espelho e repetir que era loucura, que estava tudo certo. Ali, meu sorriso ainda vinha de dentro, mesmo diante de todos os meus temores. Depois do diagnóstico, eu sorria com a boca, só. Era um movimento muscular, da boca pra fora. Sorria porque precisava proteger o pouco que tinha sobrado de mim. Estava tão frágil que temia abrir qualquer janelinha da minha alma, pois os caquinhos que sobraram poderiam sair voando e restarem perdidos para sempre.

          Agora, percebo que estamos certos em esperar tanto do novo ano, todos os anos. Podemos fazer de cada ano aquilo que propormos. Porque a verdade crua é que no Natal de 2010 eu não tinha esperança, nenhuma, mas parece que este sentimento teima em renascer, mesmo quando nem olhamos em sua direção, imagine dedicar quaisquer cuidados para seu ressurgimento.


        O ano de 2011 foi de superação. Meu filho está ótimo, recebendo elogios de todos (profissionais que participam de suas terapias, familiares, amigos). Meus filhos são os motivos de minha superação. Eu desmoronei, fiquei em pedaços, mas sempre conversei com Eduardo que ele não tinha nenhuma parcela de culpa pela minha dor. Que a tristeza era minha, decorrente de muita preocupação, de muita angústia, de desespero. Foi muita luta. Fácil, agora, perceber que só importa o sentimento da mãe para o filho. Só. Eduardo e Luísa precisam, igualmente, de sua mãe inteira, e é o que eles têm.

          Neste Natal, celebro os sorrisos finalmente nascidos da alma. Celebro minhas vitórias, por ter conseguido viver com plenitude o papel mais importante da minha vida - o de mãe. Celebro as vitórias de Eduardo, por ter apressado o passo e surpreendido tanto em sua própria caminhada. Eu seguro a mão dele, faço tudo o que acredito melhor, mas as conquistas são dele, as vitórias pertencem a ele, ao meu guerreiro que me orgulha mais a cada dia. Celebro as vitórias de Luísa, que vive tão bem esse amor com o irmão, que consegue sorrir e beijar seu irmão ao falar com ele, mesmo quando vejo em seu olhinho que ela esperava uma resposta que ainda não veio. Ainda, filha, em breve teremos lindas conversas com nosso gatão. Celebro as vitórias de minha mãe, avó única, que supera todos os seus medos e anseios e vive tão apaixonada pelos netos, com uma dedicação que eu nem posso dizer ímpar, já que recebemos, minha irmã e eu, com igual intensidade.

          Não posso ignorar que hoje vivo um momento muito triste e difícil, por um problema pessoal, pelo encerramento de um ciclo tão caro, mas, mesmo com lágrimas, vou passar sorrindo, pela beleza de tudo que temos para brindar.

           Assim, queridos, desejo que o espírito de Natal renove toda a esperança de suas vidas, inclusive aquela que é apenas semente, escondida, protegida por uma camada de terra, terra esta tão necessária para que a esperança possa aparecer e cumprir seu dever. Que, daí, nos preparemos para receber apenas o perfeito.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Luísa e o castigo da boneca

Hoje cheguei no quarto no momento em que Luísa colocava a boneca de castigo.

Eu perguntei o motivo e ela respondeu que a boneca bateu em Eduardo e que não podia, portanto:

- Você está de castigo, não vai ver TV, nem Rob o robô, nem as princesas do mar, nada, nada, acabou a festa.

Ri muito da vingança da minha pequena.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

ESTAMOS EM MANUTENÇÃO.

Férias, que delícia. Estamos em Fortaleza, na casa da minha irmã. É uma grande mudança para Eduardo, precisamos ficar atentos. Ele já nos demonstrou que está sentindo essa avalanche de novos estímulos, mudança da rotina, da casa, das pessoas com as quais já estava acostumado. Do nada, começou um choro que durou vários minutos, muito sentido, ficou soluçando por um tempo longo o suficiente para me angustiar.

Mesmo assim, todos ficaram felizes em encontrar Luísa e Eduardo tão bem. No parquinho, eles fazem a festa.

Então, entre o amor dos familiares, a energia maravilhosa da cidade, a saudade amenizada, estamos em manutenção, recuperando as forças para iniciar o novo ano.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Faz de conta...

"Faz de conta que ela não estava chorando por dentro, pois agora, mansamente, embora de olhos secos, o coração estava molhado."  Clarice Lispector


         Brinco de faz de conta com meu filho. Agora, consigo trancar dentro de qualquer gaveta tudo que não for bom, quando estamos juntos. Perto dele, nenhuma preocupação. Faz de conta que nunca chorei, faz de conta que nunca esperei demais, que nunca sonhei com o que apenas será possível em um futuro, ainda que próximo. Faz de conta que não me culpei, que nunca sofri pensando se tinha feito algo de errado que prejudicasse o seu desenvolvimento. Faz de conta que o sorriso é apenas de alegria, que esse sorriso não esconde o peso da incógnita. Faz de conta que não dói não ouvir sua vozinha, que eu espero nossas conversas tranquilamente, que meu coração está sempre leve. Faz de conta que joguei o saco de culpa, que toda mãe carrega, no lixo mais distante da nossa casa. Faz de conta que estou sempre disposta, que não fiquei  várias noites acordadas pensando em como seria mais na frente, se estávamos no caminho certo, se faltou demonstrar o meu amor em algum segundo da nossa relação, faz de conta que acordei agora, quando você abriu os olhos e, só ali, começou a vida.

        Porque existe muito que eu não preciso fazer de conta. A vida começou mesmo a fazer sentido quando vocês chegaram. As cores são inexplicavelmente mais fortes. O ponto alto do meu dia é ver seus rostinhos, sorrindo, por qualquer gesto meu. Confio em vocês cegamente. Tenho fé em vocês, em sua história. Tenho certeza de tudo que vocês podem, que vocês podem tudo. Amo vocês assim, sem nada mudar. As diferenças nos tornam grandes. As diferenças nos fazem olhar para o outro com mais atenção, para ver o novo. O novo é bom. Ninguém é igual, todos temos nossos limites. Pra mim, importa que você seja exatamente o que você é. E você é lindo, carinhoso, inteligente, feliz.

         As crianças aprendem brincando de faz de conta. Fico feliz em constatar que eu também.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Consulta fortalecedora

Tenho pensado sobre caminho que escolhi e nas pessoas que tenho encontrado pelo caminho.


         Escolhi amar, sorrir, ser feliz. Amo meus filhos exatamente como eles são, desse jeitinho, sem mudar nada. As crianças chegam já com um jeito e uma personalidade únicas. Dedico-me a influenciar na formação dos meus filhos de forma positiva para que sejam pessoas boas, com valores fortes, preparadas para viver. Amo o que eles são e suas transformações a cada dia. Sinto-me presenteada com esse amor.


            Em algum momento, percebi que viver era como caminhar por um labirinto. Sendo assim, periodicamente, tinha que escolher por onde ir, baseada em algumas dicas e aprendizado anterior. Acertamos algumas vezes. Em outras, encontramos uma parede e precisamos recuar.

         Talvez, ao escolher nosso caminho nesse labirindo, selecionamos também as pessoas que encontraremos. Tenho amigos maravilhosos, uma família inigualável. Parece que tenho acertado nas escolhas, inclusive quando tenho oportunidade de voltar e mudar o rumo.


      Do mesmo jeito tem ocorrido com os profissionais que nos acompanham. Na segunda tivemos a consulta com a psiquiatra. Dra. Lia, uma médica muito competente, uma pessoa especial. Ela disse que ficou encantada com o desenvolvimento de Eduardo no período (6 meses entre as consultas). Ela olha para ele com emoção, compreende os nossos anseios, ajuda nas escolhas, esclarece as dúvidas, tudo sempre com leveza, atenção e cuidado. Com certeza, é uma consulta que fortalece nossa alma, estimula a prosseguir, acalma as emoções revoltas.


           A primeira consulta, há seis meses, já fez grande diferença no convívio com Eduardo e Luísa. Compreendemos que temos várias oportunidades, durante o dia, de estimular as crianças. Dra. Lia prestou todos os esclarecimentos, conversou sobre todas as minhas dúvidas, disse que as possibilidades eram imprevisíveis, portanto, tínhamos todas as possibilidades. Nada estava fechado ou encerrado para o meu filho. Que faríamos tudo que fosse possível para que ele conquistasse e vencesse suas batalhas. Sim, chegaremos ao topo da montanha, embora precisemos ficar cientes de que cada ser tem a sua própria luta, deve escalar a sua própria montanha. Não posso esperar que Luísa conquiste o mesmo que Eduardo, cada um terá sua própria vitória, cada um chegará no pico da sua montanha.


        Quero dizer que o encontro com Dra. Lia foi maravilhoso não apenas porque ela enfatizou a evolução do meu filho, mas também por ser uma médica que olha para Eduardo como uma criança capaz, com todo o seu pontencial. Preocupa-se em indicar o que podemos fazer para estimular o seu desenvolvimento, observa e orienta quanto ao que Eduardo precisa para superar seus obstáculos, pensa no que a família está sentindo, no que a família precisa saber, ou seja, trata os pacientes e não a doença ou o transtorno ou seja lá o que for. Tudo fica mais tranquilo quando encontramos boas pessoas pelo caminho, qualquer que seja o rumo que nossa vida decida seguir.


        Espero continuar tentando. Espero ser capaz de reconhecer quando sair do melhor caminho e conseguir voltar para escolher novamente. Poucas decisões são imutáveis. Não devemos esquecer que sempre teremos a possibilidade de recuar e fazer novas escolhas. Errar e aprender fazem parte da beleza da vida.
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