segunda-feira, 6 de junho de 2011

Mais altos do que baixos?

         Alguns dias, por mais que eu fuja, por mais que eu tente evitar, por mais que eu saiba que estou fazendo tudo que posso, que eu tente ver Eduardo simplesmente como meu filho, independente dos sintomas do autismo, por mais que eu beije e abrace muito meus amores, Luísa e Eduardo, e mesmo que eu enfatize para mim mesma todo o progresso que ele já teve em poucos meses de terapia, ainda assim, eu percebo que estou triste, com um aperto inconfundível no peito e um choro engasgado, que teima em molhar os olhos e se mostrar para quem convive comigo. Eu fico prendendo esse sentimento a todo custo e tentando ignorá-lo, na esperança que ele se transforme em qualquer sentimento positivo e leve embora essa angústia, exatamente porque sei que sofrer não vai ajudar, pelo contrário, pois pode, inclusive, prejudicar o desenvolvimento dos meus filhos, que precisam tanto de mim. Portanto, preciso de fé, não posso cair. Assim, chega um momento em que acho que vou conseguir, que será possível deixar a tristeza de lado até que ela desapareça, sem vestígios, do mesmo jeito que chegou. 

           Entretanto, depois que os meninos dormem, quando estou deitada e não consigo dormir, fica impossível segurar mais e cedo, me deixo invadir, choro, choro até dormir. É quando deixo de lado todas as tentativas de ignorar a dor, penso no meu filho tão desejado, em como tudo ia bem em seu desenvolvimento, até certa época, penso no futuro incerto de Eduardo, questiono se estou fazendo tudo que posso por ele, temo pelo que vai sofrer, pela sua felicidade, pela sua independência. Sofro tudo que vem, sem podar, sem tentar evitar, caindo até onde não dá mais.

            No dia seguinte, bem cedo, claro, Eduardo vem me acordar e vejo aquele lindo menino me olhando, rindo e me puxando pela mão, tentando me mostrar o que quer. Daí revivo minha felicidade por ter meus dois filhos aqui comigo e percebo que era preciso chorar até esvaziar o sentimento ruim. Permito que meu filho me mostre toda a beleza do seu mundo, fico feliz ao ouvir a vozinha de Luísa conversando, sem sofrer porque não posso ouvir, ainda, uma conversa de Eduardo. Deixo meu filho me levar pela mão para o seu caminho, nem que seja simplesmente andando com ele pela casa. Vejo em seu rosto, sem ser preciso uma única palavra, que ele espera apenas que eu me divirta com ele.

            E, finalmente, parece que tudo volta para seu lugar dentro de mim e tenho a certeza que todos os meus medos serão resolvidos, em seu tempo. Sinto a força voltar, lentamente, sabendo que meus filhos merecem uma mãe feliz, uma mãe confiante, sem se deixar abater, uma mãe que lutará, sempre, pela felicidade deles. Parece que algumas vezes precisamos nos deixar levar pela tristeza, para que a dor não tome o espaço da felicidade e a alegria tenha seu lugar de destaque. Afinal, eu sempre soube que seria muito mais feliz como mãe. E assim o é. Que venha a esperança, já que a dor foi vencida há pouco, por enquanto. E para comemorar que me reergui como mãe, nada como um passeio com vovó, filhotes e amiga. Mas isso fica para o próximo post.   

3 comentários:

Karla Coelho disse...

Chorar é bom pois tira a angústia de dentro de você, ainda mais porque você não está chorando de dó de você mesmo ou por ter um filho especial, você está chorando porque não sabe como vai ser o futuro do seu filho, faculdade, familia, independência, etc. Esse medo é normal e um dia vai passar. Foque sempre no positivo pois você é uma mãe brilhante e os melhores remédios para o autismo (na minha opinião) são o amor e a estimulação. Seu filho tem os dois em alta dosagem e ainda tem uma irmã que o ajudará sempre!

Lembre-se: seu filho não está te mostrando o mundo dele, ele está te mostrando outra visão do NOSSO mundo. Todos fazemos parte do mesmo mundo, cada um com suas diferenças e por isso ele é fantástico. Estamos na Terra para evoluir e o sofrimento, as provações, nos leva a isso!

Que bom que você já está bem, feliz, confiante pois é assim que tem que ser! Pense positivo até nas horas difíceis pois você sintonizará com coisas boas!

Um bom mantra é: "imagem verdadeira, harmonia, pefeição" (não falar o "e" depois de harmonia pois na repetição pode dar som de imperfeição). Repita esse mantra no pensamento até dormir, qundo estiver cozinhando, no carro, etc... sua imagem verdadeira é perfeita, nós é que as vezes criamos problemas, sintonizamos em coisas negativas, etc.

Beijokas!

Anônimo disse...

Que dor sentimos em relação às incertezas em relação aos nossos filhos. A verdade é que a incerteza é presente sempre, e o futuro é muito incerto.

Mas a possibilidade de um diagnóstico parece adiantar muitas incertezas sobre o futuro para o aqui e agora....

Mas, o aqui e agora, verdadeiro, que existe, é um filho maravilhoso, ansioso para aprender e uma mãe ansiosa para ensinar.

Você é uma excelente mãe e o Eduardo com certeza sente isso!

Muita força, sempre! Muita luz!

Beijo,

Lu (Brasília)

Lili disse...

Como sempre eu chorei lendo o seu texto, mas foi um choro de cumplicidade, de quem partilha a dor e a alegria, de quem percebeu maturidade moral e espiritual em suas palavras, de quem reconheceu um puro e profundo amor. Acredite que só curamos nosso espírito trabalhando nossos sentimentos, amando incondicionalmente e isso amiga, você já está fazendo. Tenha certeza que a vida é eterna, contínua e todo esse aprendizado no amor te fará vencer todas as dificuldades. Não esqueça, ser forte é entregar-se a esperança, ao amor, reconheceros medos, enfrentá-los e nos entregarmos a Deus nos momentos tristes, assim,como você mesma disse, esvaziamos a angústia para dar espaço a felicidade. AMO TODA A SUA FAMÍLIA.
Beijão da "tia Lili".

Real Time Web Analytics