quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Luísa acalmando a mamãe

Luísa pulou na cama e bateu no meu rosto. Na hora, com a dor, eu fechei os olhos e gritei, quando seguiu a nossa conversa:

- Mamãe, desculpa, doeu?

- Ai, filha, doeu muito.

Ela, passando a mão na minha cabeça?

- Mamãe, não se preocupe, vai passar logo, logo, fique tranquila, tá? Daqui a pouco você vai ficar boa..

Achei tão lindo que passou mesmo, na hora

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Batom da mamãe.

Luísa entrou no banheiro enquanto eu passava batom e falou:

- Mamãe, eu também quero batom.

- Filha, você não tem batom ainda.

- Então eu quero ter, mamãe.

rs. Essa menina é objetiva, resolve tudo rápido.

Outro dia falou:

- Mamãe, eu quero falar com a tiDéa.

- Mas filha, eu liguei mas a tiDéa não atendeu.

- Então, eu quero ir para o aeroporto, no avião, para o apartamento da tiDéa. Quero em Fortaleza.

- Mas, Luísa, tem que arrumar a mala, comprar as passagens, ficar um tempo dentro do avião. A mamãe tem que trabalhar, você tem escola.

- Tá certo. Vamos para o apartamento da TiDéa?

Resolve rapidinho, não importa a dificuldade.

Terapia nossa de cada dia..

Ontem saí da psicóloga com Dudu, em uma sessão que fiquei com ele na sala, pensando em como tudo mudou nesse ano de terapia com a mesma profissional.

Claro que, no início, eu não imaginava que minha relação com meu filho seria analisada por uma pessoa estranha. Como foi difícil. Primeiro, eu sou tímida. Então fazer qualquer coisa com outra pessoa olhando de perto, com o intuito de avaliar, já é bem difícil. Fazer isso em um momento que você está destruída, parecia impossível. Mas, como toda mãe rasga a palavra impossível da vida, eu não seria diferente e fui em frente, segurando a mão do pequeno, sem pensar.

E como aquela terapia me fez bem, ou melhor, faz até hoje. Primeiro, encontrei uma profissional atenta, cuidadosa, além de muito competente. Lívia sempre cuidou para que o turbilhão na minha mente depois do diagnóstico interferisse o mínimo possível na minha vida.

A verdade, ainda que cause dor admitir, é que eu não sabia mais como brincar com Eduardo. Ele fugia de mim, estava cada dia mais distante, e eu não era capaz de alcançar meu filho. Nunca vou esquecer que Eduardo mudava a posição sempre que estava sentado e eu fazia um carinho, saindo o suficiente para que, da posição que eu estava, não pegasse mais nele. Eu chorava. Isso maltratava mais do que qualquer atraso que eu visse em Eduardo.

A Lívia, atenta, percebeu isso e me levou para dentro da sala com ele. Assim, a terapia de Eduardo era a minha terapia. Nossa, ali eu consegui equilíbrio e apoio para alcançar meu filho. Quando eu menos esperei, ele corria para o meu colo e pegava minha mão, pedindo carinho. Os dias de fuga ficaram no passado. Embora ele ainda resita ao contato, isso ficou reservado a alguns raros momentos.

Então, eu comecei a entrar com ele nas sessões pensando que estava apenas sendo apoio do Eduardo, pois que não ficava bem sozinho dentro da sala. Depois, percebi o quanto conquistamos, juntos. Hoje ele entra sozinho.

Ontem, depois de alguns meses, entrei novamente. Na primeira sessão, éramos uma mãe desesperada, que tinha acabado de perder o chão, um filho lindo, que tinha uma mãe zumbi. É, por tudo que conquistamos, vejo que o amor dá jeito até nisso.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Chorar parece que faz bem...

Parece que chorar faz bem, contanto que seja apenas o suficiente para melhorar. Ninguém aguenta chorar o tempo todo, né?

Então, meu desabafo ontem me fez muito bem e hoje estou ótima, feliz, leve.

Não sei se porque ontem eu cheguei e Eduardo correu e não saiu da minha frente enquanto eu não dei um abraço. Insistência não é lá uma característica predominante na personalidade do meu filhote.

E ficamos agarradinhos. Nada melhor.

Então, estou na fase do sacode a poeira, de novo.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Novas notícias

Eduardo e suas sempre boas notícas.

                      Sobre a escola, Eduardo está cada dia melhor na adaptação. Já aceita bem a monitora, entra sem chorar, fica algum tempinho dentro da sala (uma excelente evolução, já que só queria ficar andando) e se alimenta bem. Faz o lanche e janta sopa, raspa o prato. Estamos mais tranquilos.

                    Na psicoterapia também está ótimo. A psicóloga está muito feliz com os resultados, com a interação, com a evolução initerrupta.

                    Meu filho começou a imitar, a psicóloga também notou, não parece mais impressão minha ou excesso de vontade que até fantasio coisas.

                   Ontem eu estava conversando com ele e disse que tinha entendido que ele não queria ficar ali deitado para trocar a fralda, mas que era preciso. Ele olhou bem nos meus olhos e repetiu o não, falando e balançando a cabeça. Mais interação, melhor. Quando terminamos, ele olhou e bateu palmas, dizendo: êêêêê. Rimos muito, de felicidade pela reação dele. 

Enfim, tantas coisas positivas e eu não entendo os motivos de, hoje, eu só conseguir chorar.

                     Sabe, filho, hoje os meus dias são felizes. Você me ajudou a tirar dos meus olhos uma venda posta no dia que li em algum lugar que havia um atraso proveniente, talvez, de autismo. Aquilo até me deixava ver, mas era tudo tão turvo, meu amor. Até pensei que não fosse capaz de corresponder ao que você precisava. Por um momento eu achei que ficaria ali, parada, sem me mover, que minha capacidade de reação tinha fugido para longe. Livre da venda, consigo enxergar nossa vida, meu amor por vocês, os meus presentes, tudo que você supera todos os dias, tão pequeno, tantos ensinamento, uma oportunidade única, de compreender, enfim, que condição nenhuma pode superar o ser. Eu vejo com clareza que você é o meu filho lindo, muito amado e esperado, tão inteligente, com um olhar tão forte e sedutor. Eu sinto tanto orgulho dos meus filhotes, de você e de sua irmã. 

                   Talvez o choro seja decorrência do cansaço. Agora que o papai não mora mais com a gente, ficou bem complicado correr de um lado para o outro, trabalhando o dia inteiro.

                    Talvez seja comum que uns momentos de tristeza simplesmente aconteçam, e pronto. Li, hoje, um relato de uma mãe que superou uma história tão complexa, que viveu por um período em um mar tão revolto, que a nossa, filho, se fosse possível compararmos, poderia parecer uma piscina desocupada de tão calma. Embora outras histórias não tornem a sua superação menos bela, são capazes de nos fazer abandonar pelo caminho aquela bobagem de questionar sempre: Por que eu? Por que comigo? Acontece com a gente, da mesma forma que acontece que qualquer pessoa. Não dá pra saber se existe algum sentido nessa distribuição aleatória de dor e amor, alegria e desespero, felicidade e tristeza. Sei que recebemos a vida em nossas mãos e o que fazemos com ela, guiará nossa existência e a daqueles que nos rodeiam.

                 Talvez eu chore porque, embora aceite que o vento tenha levado nossa vida exatamente para onde ela está agora, eu sonho muito com conquistas futuras e, por isso, a angústia não cede. Essa ansiedade acaba comigo.

                     Sei que somos felizes, filho. Sim, mas vivemos algumas situações que só ocorrem pela falta de comunicação entre nós dois. A fala faz tanta falta. E fico triste, não tem jeito. Um pouco só, tá?

                Eduardo adora andar, passear, sair de casa. Ontem desci um pouco com ele e pegamos uma direção. Eduardo ficou muito irritando, gritava, tentava me bater. Eu não conseguia entender o que era. Continuei andando até que ele foi ficando mais calmo e, em alguns minutos, estava feliz em sua caminhada. Eu fiquei arrasada. Talvez ele só quisesse pegar outra mão, vejo Luísa fazendo isso sempre. Ou não quisesse pegar aquela direção. Ou não tivesse entendendo que iríamos sim, passear. Talvez ele ... talvez.. Eu queria ouvir a vozinha dele me dizendo sim, não, qualquer coisa que me ajudasse a entender seus desejos. Eu queria entender para que ele não ficasse tão irritado por não conseguir se comunicar, por não falar.

               Agora, Eduardo puxa a minha roupa, se posiciona na minha frente e fica olhando, esperando um abraço. É verdade que ele faz de tudo para demonstrar o que quer. Entra na cozinha, pega o copo e vai entregar na nossa mão, avisando que quer suco ou água. Algumas coisas eu entendo bem. Mas outras, filho, eu não consigo. Perdoa a mamãe tá? Eu garanto que estou fazendo de tudo para entender. Daqui a pouco você vai falar e vai superar a dificuldade dessa sua mãe boba.

                

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Retorno

O MUNDO É BOM, O MUNDO É SEU EDUARDO.. LUÍSA... QUEM MAIS QUISER.

        As terapeutas de Eduardo estão encantadas com seu desenvolvimento nesse período longe das terapias. Em dois meses de férias, ele voltou ótimo, mais carinhoso, atento e desenvolvido. O melhor é que ele voltou muito bem quando havia uma grande possibilidade de regressão. Não, não o meu amor, não com tantas pessoas dedicadas por perto, nossos anjos aqui na terra. 

Ai, que esse meu pequeno só me dá orgulho.

          Hoje eu conversei na escola com uma mãe especial, cujo filho também apresenta um atraso em seu desenvolvimento, sem diagnóstico. Exatamente como no meu caso, percebi que são muitas dificuldades, inseguranças, dúvidas e amor, um amor tão grande que supera todos os medos e nos leva à luta, salta aos olhos, contagia.

          Voltei emocionada. Cada história é única em conteúdo e superação. Pensei no quanto sofremos por situações que poderiam ser evitadas. A condição especial existe, mas muito mais importante (pelo menos deveria ser) é que ali existe uma criança, uma família, que poderia ser poupada da insensibilidade de algumas pessoas, inclusive profissionais que deveriam estar preparados para lidar com o diferente, para nos introduzir em uma nova realidade. Claro, sensibilidade, tato e bom senso não é para todos - que pena.

        Com tudo isso, desejo que Luísa e Eduardo vivam, no futuro, em um mundo melhor do que este (parece que é desejo de todos os pais, desde sempre), que ninguém passe por situações difíceis pelo simples fato de ser quem é. Desejo que cultivem boas relações, que conquistem bons amigos, que para isso não haja nenhuma condição, que conheçam pessoas e possam conviver com elas na medida do grau de afinidade que desenvolvam, da admiração que construam, do sentimento único e inexplicável que existe quando encontramos esses que nos acompanham como amigos, não importando mais nada além do que elas carregam em sua alma, não importando as diferenças. Que compreendam algo tão simples: o diferente sempre existe, o que não existe é o igual. Só assim viveremos a verdadeira inclusão, palavra esta que, um dia, talvez não precise ser usada, talvez não, quem sabe, no tempo em que nos importaremos apenas com os sentimentos que aquela pessoa traz na alma, além do que se vê.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Primeiros dias de escola..

Como mãe sofre ao deixar seus pequenos na escola. Ai, dá vontade de agarrar, pegar no colo e correr para a segurança da própria casa. Mas, já que não dá pra fazer isso, a gente costura uma máscara sorridente no rosto, finge que está muito segura, firme, conversa com o pequeno e vai trabalhar, ou melhor, tentando trabalhar enquanto pensa no que está acontecendo na escola.

Luísa chegou na escola com uma carinha séria, os olhos enormes, andando devagar. Quando eu mostrei a sala e a professora, ela disse que não queria ficar. Conversamos, entrei um pouco e ela resolveu sentar. Saí da sala. Quando estava na outra sala, eles passaram voltando do lanche e ela, que ainda estava muito séria, me viu e começou a chorar, daquele jeito que demora até para tomar fôlego. Ai, vencer a vontade de levar minha filha para casa foi surpreendente. Na hora de ir embora, ela fez suas despedidas, mas disse: até amanhã não. E olhe que Luísa está acostumada ao ambiente escolar, só está sofrendo porque foram 2 meses de férias.

Com Eduardo, então, foi bem mais difícil. Ele tem uma monitora exclusivamente com ele. Então, ele precisa se acostumar com a escola, as professoras, auxiliares, coleguinhas, o horário, comer em um lugar diferente e, ainda, ter a companhia constante de uma pessoa que ele nunca tinha visto antes. Passar por tudo isso sem se comunicar, então, torna tudo pior. Ele gritou muito, chorou, agarrou meu braço e não queria soltar de jeito nenhum, fugiu da sala várias vezes e só ficou bem quando saiu para passear pela escola. Filho, vamos precisar de um período maior para adaptação, mas você vai conseguir, como tem conseguido em todos os desafios que enfrentou .. e eu, sua mãe, também conseguirei (é o que espero).

Hoje, no segundo dia, Luísa já acordou dizendo que não queria a escola. Quando chegamos, os dois choraram, Eduardo gritou, Luísa pediu para ficar comigo. Respirei fundo, conversei com os dois e saí. Só espero que essa adaptação passe logo.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Balanço das férias.

Voltei de férias sentindo saudades, saudades, tantas que é impossível descrever. Não apenas pela dificuldade de expor tal sentimento, mas pela dor que a tarefa carrega. As despedidas em Fortaleza são sempre difíceis. Deixo longe familiares, amigos especiais, minha cidade, o belo mar de Fortaleza. Recebemos por lá muito amor, carinho, abraços apertados, beijos alegres, um apoio que, agora e de novo, receberei daqui, o que é diferente o suficiente para chorar.

Durantes esse período, percebi que todos notaram a grande evolução de Eduardo. Fiquei muito feliz ao comparar com a nossa última viagem, há um ano. Eduardo distribuiu beijos, abraços, carinho. Não fugiu, brincou com os primos, com pessoas que ele não convive. Parece que estamos acertando.

Também percebi que o monstro da dor nascido da descoberta do atraso no desenvolvimento de Eduardo permanece forte, embora quase sempre adormecido, geralmente inerte, até esquecido, mas sua  presença em si já tem o poder de machucar. Durante o ano ficamos tão envolvidos nas terapias, em como podemos ajudar, nos estímulos que ele precisa, em fazer tudo que é possível para o seu melhor desenvolvimento, que não nos permitimos pensar nas dificuldades. Focamos nos métodos, na estrada, nas ações necessárias e nas estratégias. Agora, nas férias, descansamos e brincamos, e, enquanto isso, não pude deixar de pensar no quanto deve ser difícil para o meu filho não falar, não expressar o que deseja, não ser compreendido tantas e tantas vezes. Minha irmã falou sobre isso e chorou, muito. Ali, percebi que machuca do mesmo jeito, sim, magoa, que o choro que vem inunda tudo, pois reúne todas as nossas preocupações, as marcas passadas da negação, a angústia do desconhecido. Não é uma dor contínua como no início, mas nos surpreende em qualquer descuido. Claro, estamos exultantes pelas conquistas, o amor por ele é incondicional, a felicidade por ter recebido Eduardo (assim como Luísa) como meu maior e melhor presente da vida nunca foi abalada, conquanto, é óbvio que se fosse possível evitar qualquer sofrimento, faríamos, daríamos tudo. Enfim, são apenas momentos. Seguimos felizes.

Filho, sei que em breve estaremos conversando e você vai dizer tudo que quer e precisa.

Por fim, minha irmã, você demonstrou, como sempre, todo seu amor e dedicação, como não podia ser diferente vindo dessa tia-mãe tão especial. Meu cunhado se desdobrou em atenção e carinho. Queridos, obrigada por tudo.

Luísa encantou.

Sempre que falámos em viagem de volta ela respondia: mamãe, não quero ir para Brasília. É filha, não teve jeito e aqui estamos. Saudade é ruim, mas apenas ocorre para que saibamos o quanto amamos e somos amados.
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