quarta-feira, 2 de maio de 2012

Maio chegou, tempo de comemorar

O mês de abril foi marcado pelo fechamento do diagnóstico de Eduardo: autismo infantil.
O mês de maio traz o dia das mães e meu aniversário.

Eu percebo que as coisas estão cada vez mais tranquilas em meu coração. Percebo que eu não preciso fazer muito, além de acolher meu filho, de todas as formas, independente de qualquer coisa, o que é tão fácil. Afinal, como vou exigir que ele não sofra qualquer preconceito se, dentro de mim, eu lamentar o que poderia ter sido? Não foi. Não importa. Importa o que é.

E o que é.. é lindo. Meu filho não tem o desenvolvimento esperado, mas tem o tempo dele. E nos surpreende. Seu sorriso é um dos mais lindos que eu já pude presenciar. Que sorte. Meu filho é carinhoso, inteligente, conquistador. Tá, eu sou mãe, ele me conquistou no primeiro olhar, quando nasceu. Nada, ele me conquistou quando era aquela bolinha em um ultrassom.

E eu não paro de pensar, é verdade que aniversário pede reflexão. É o meu ano novo. E nesses momentos eu constato que meus filhos não são apenas presentes, são transformação. Que todos os dias eu acordo querendo ser melhor, porque sou exemplo, porque eles merecem uma mãe melhor. Que todos os dias eu luto para julgar menos, pensar mais no outro, ser mais solidária e generosa, porque eu preciso corresponder, devolver à vida tamanho presente recebido. Todos os dias eu quero sorrir mais, sabendo que sou espelho. Todos os dias eu quero olhar para mim, ser feliz, estar plena, pois assim, em minha total doação aos meus filhos, eles receberão o melhor que existir aqui, dentro de mim.

De tudo, eu descobri que a dor pode ficar no passado, guardada em um período onde era impossível não sentí-la. Hoje não, há muito tempo eu escolhi ser feliz e no meu mundo a dor não mora nenhum segundo além do necessário. Na verdade, eu não tenho outra opção. É impossível viver, receber meus dois presentes e toda essa transformação, e não sorrir.

Algumas situações não cabem no nosso entendimento. Ninguém sonha com um filho com necessidades especiais. Mas, depois que descobrimos tais necessidades, percebemos que nós também recebemos atenção especial. Que depois deles, permanece na sua vida apenas quem vale a pena. Que depois deles, as bobagens que pensamos e almejamos recebem seu rótulo: besteira, deixa pra lá. Que damos mais importância ao amor, amizade, solidariedade. No dia que recebi o diagnóstico eu morri um pouco, porque a esperança de não ser, dele sair do quadro, de chegar uma hora na vida do meu filho que os terapeutas diriam que ele desenvolveu tanto que não seria possível mais diagnosticá-lo como autista. Isso morreu. E nesse momento, embora nada fosse novo, eu caí. E, de novo, tive mãos amigas e preocupadas, que me ajudaram a levantar e me mostraram a riqueza de seguir, que por mais que seja difícil, vale a pena ver duas crianças começando sua vida - esperança renovada.

Esses dias aconteceu algo inédito. Eduardo por muito tempo reagiu com indiferença quando eu chegava em casa, depois, demonstrava reações comedidas, indo ao meu encontro, dando um leve abraço e voltando para o que estava fazendo, e, ultimamente, pedia colo logo que percebia minha presença. Na segunda eu cheguei e, para minha surpresa, ele saiu correndo do quarto, eufórico, sorriu e pulou no meu colo. Ali ficou, agarrado e sorrindo, por algum tempo. Confesso que segurei as lágrimas, lembrando daquela criança que se afastava do meu toque, hoje fazendo o que um filho faz. Confesso que revivo as lembranças desse momento, tão emocionante, várias e várias vezes.

Assim deixei abril, junto um laudo escrito autismo infantil, sem dor. Assim recebo maio, com esperança e música, muita música.

2 comentários:

Anônimo disse...

Com lágrimas nos olhos, saúdo maio com você. Lágrimas de quem compartilha dores e, mais importante, lágrimas de Quem compartilha alegria pelo progresso e de esperança. Um beijo, Lu (Bruno)

Anônimo disse...

Olá! Talvez pela primeira vez estou por aqui por conta de bons motivos - sempre falei muito e você sempre disse que eu criava e escrevia muito bem, mas alguns capítulos da minha vida vão secando algumas veias e as transformando em leitos de rio seco. De qualquer forma passo por aqui para dizer que é por esse leito seco de rio que será pavimentada a passagem dos nossos filhos... Nada mais a dizer a não ser FORÇA nessa hora!

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