quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Lágrimas nos olhos.

            Fiquei encantada com uma frase, em uma mensagem de um grupo sobre o autismo, registrada lá por Argemiro Garcia, pai de um lindo rapaz, que não conheço pessoalmente (nenhum dos dois). A primeira vez que li sobre Argemiro e sua família foi, nas minhas consultas pela internet, quando me deparei com seu blog "canto de anjo". Ah! passei dias ali, participando virtualmente do cotidiano daquela família tão sensata. Argemiro também tem os blog's Crônica Autista e Abraça, ambos na minha lista de blogs. Com certeza falta muito a falar da atuação de Argemiro em questões vinculadas ao autismo, pelo que peço desculpas. Tal falha se deve ao meu contato recente com o assunto. O que escrevi acima foi decorrente do breve contato que eu tive da sua, sem dúvida, valorosa contribuição.

      Dito isto, escrevo aqui a frase que me emocionou: "Que ninguém ouse dizer que um menino autista não é capaz."

       Ler aquilo trouxe nítidas lembranças de dezembro de 2010, quando uma equipe me falava que identificou, em Eduardo, mesmo muito novo, vários traços autistas. Embora não houvesse, ainda, lágrimas nos meus olhos, olhava para aquele laudo e todas as palavras nada mais eram que borrões em um papel, exceto as que diziam "diagnóstico: autismo infantil." Estas pareciam estar em 3D, saltavam, estavam destacadas perante os meus olhos. Do momento que saí daquela sala até a hora que me tranquei no banheiro e chorei até ficar exausta, tentando não ser ouvida, eu só conseguia visualizar uma criança perfeita, o meu bebê lindo, com olhos perfeitos, amado com tudo que meu ser podia oferecer, mas - o maldito "mas" que tanto me perseguiu - que não seria capaz de fazer nada. Foi meu primeiro pensamento, foi meu primeiro horror como mãe. Agora não era mais uma gripe ou uma febre, era autismo. Tá, aquela palavra não me dizia muito. Tudo que eu podia imaginar era uma pessoa, parada ou, no máximo, fazendo movimentos que eu não podia compreender. Hoje eu vejo que não compreendia nada. Foi a consolidação equivocada deste pensamento que me fez, por muito tempo, não consegui mais controlar o choro como o fiz no primeiro momento, que saí do consultório, fui pegar os meninos, cheguei em casa e só ali, trancada, desabei. Depois desse dia, o choro saltava a qualquer momento, em qualquer lugar. E eu passei vários meses com aquela cena petrificada nos meus pensamentos, tentado fazer que ninguém notasse que era assim que eu pensava, acho que sem sucesso. Minha tristeza era pública, mesmo que eu não dissesse uma palavra.

          A emoção que me causou a frase de Argemiro é reflexo da alegria de perceber que eu consegui me livrar desta visão equivocada; foi enxergar a verdade incrustada naquelas palavras; foi saber que eu me livrei do preconceito e que eu nunca mais ousarei dizer que qualquer pessoal não é capaz de fazer algo. Tudo isso, eu só posso agradecer aos meus filhos.

           Hoje eu percebo que não importa o tempo que determinada coisa é feita, importa o resultado, importa acreditar que acontecerá. Mais ainda, importa tudo o que foi realizado e conquistado pelo caminho, até chegar aquele resultado. Sim, felizmente, mais do que nunca, hoje eu sei: sim, meu filho é capaz, e que ninguém ouse dizer o contrário.


4 comentários:

nereida serra disse...

vc me leva as lagrimas qdo recordo após um ano o diagnostico de autista.
era uma dor minha , só minha.
sou depressiva bi polar , não precisava de um filho autista.
MEU DEUS COMO ERREI , EU HOJE PRECISO MAIS DELE QUE ELE DE MIM.
ROLF ME DÁ ALEGRIA DE VIVER E VER A LUTA DELE EM ROMPER OBSTACULOS, QUANTA ALEGRIA.
MEU DEUS TEM HORA QUE NÃO MERECIA UM FILHO ASSIM TÃO VIVAZ , FALADOR,
BRAVINHO E ALEGRIA DA MAMÃE.
OBRIGADA SENHOR
NÃO ME CONSIDERO TÃO MERECEDORA DE UMA CRIANÇA TÃO ESPECIAL.
NEREIDA PETERS

Anônimo disse...

Lindo o seu relato.. sinceramente não consigo imaginar pelo sofrimento que vc passou com o diagnóstico.. mas consigo imaginar e sentir a alegria que você conquistou em perceber que o Dudu na sua diferença é igual a todos..e que acima de tudo é capaz de aprender e se desenvolver, a seu tempo.. porém muiiiito capaz.. Adorei o vídeo dele na piscina.. é isso aí.. como todas as crianças precisamos incentivar.. para que o desenvolvimento aconteça.. SIGA EM FRENTE... SEMPRE..
Bjs

Sandra

Elaine disse...

Lindos os seus depoimentos, sou mãe de um rapaz autista, ele tem 19 anos.
A maioria das histórias de mães de autistas é parecida.
Gravidez super esperada, amor, dedicação, ai as diferenças aparecem, e no meu caso há 16 anos atrás não encontramos nehnum profissional tanto médicos como professores, etc, que nos ajudasse.
Exames, consultas e nenhum diagnóstico fechado.
Eu sabia que meu filho tinha suas dificuldades, mas também sabia que ele possuia potencial.
Nunca desisti dele, sempre acreditei,o que ele não aprendia na escola eu ensinava em casa, e assim ele chegou a concluir o ensino médio.
Esse ano está somente nos auxiliando em nosso trabalho, estamos em uma fase difícil, pois não sabemos o caminho a percorrer.
Acredito que conseguiremos descobrir mais um caminho em breve, pois o que ele mais quer é continuar a estudar até que consiga se posicionar profissionalmente.

Mônica Cadorin disse...

Sim, Lágrimas nos olhos. A gente se vê no seu relato. Todo mundo passa por isso: a tristeza, a aceitação, a superação, as conquistas. Só quando a gente entende que ser autista não é o fim do mundo é que começamos a superar a tristeza. Só quando se entende que a nossa criança continua sendo a mesma, que não há uma pessoa melhor por trás do autismo, porque o autismo e a pessoa são a mesma coisa é que se consegue voltar a ser feliz com aquela criança linda que é nossa. E depois vem a fase das conquistas, quando entendemos que, antes de serem autistas, nossos filhos são crianças, ávidas por aprender e crescer, e desenvolver todas as suas potencialidades, como toda criança da mesma idade. E eles são, sim, muito capazes de conseguirem tudo o que eles quiserem. Os limites das pessoas autistas são os mesmos limites de todas as pessoas. Todos são capazes - e nós também, como mães e pais, somos capazes de dar a nossos filhos o que eles precisam.
Obrigada pela reflexão, Ale. Nunca é demais repetir que eles são capazes de tudo o que quiserem. Um abraço
Mônica, mãe da Maria Clara

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