quinta-feira, 24 de maio de 2012

Essa montanha-russa...

Alguns dias, eu finjo que estou bem. Jogo tudo para debaixo do tapete e exibo meu melhor sorriso. Finjo a maior parte do tempo, até desabar. Nesses dias, dirigindo, ou no banho, quando estou sozinha, eu choro, tentando equilibrar as emoções, tentando expulsar a tristeza, renovar meus sentimentos de esperança, acalmar meu coração.

"Se existe Deus em agonia
manda essa cavalaria
que hoje a fé me abandonou"

Só em alguns dias, eu preciso de uma cavalaria. Eu precisaria que acontecesse algo bombástico, tão forte que seria capaz de me mostrar que estamos todos enganados, que Eduardo vai rapidamente se desenvolver, que vai falar, conversar, aprender tudo, em pouco tempo. Que o pesadelo da dúvida, do atraso, da preocupação, da busca pelo diagnóstico, da investigação genética, da possibilidade, agora mais forte, de Eduardo ter alguma síndrome, tudo vai ficar no passado. Tudo vai fazer parte da memória, borrado pela superação.

Só em alguns dias eu queria não precisar fingir. Eu queria a plenitude que tanto sonhei, queria que meu filho não sofresse, queria que ele pudesse brincar e brigar com sua irmã, contar suas histórias, deixar em meus ouvidos a vibração do seu som.

Só em alguns dias eu penso que não vou aguentar, que é carga demais, que meu filho não merece tantas terapias, exames, consultas médicas, compromissos de adultos, tudo isso enquanto sua irmã brinca em casa, como é certo que aconteça com uma criança. Como eu tanto sonhei. Penso que meu filho não precisaria ficar agoniado por não conseguir falar o que quer, ou ainda, que eu tinha que fazer alguma coisa, afinal, eu sou a mãe dele. Como eu posso não enteder o que ele fala? Eu tinha que entender, eu tinha que aliviar a angústia do meu filho por não conseguir se comunicar. CULPA.

Aí, tenho vontade de ficar deitada, no escuro, longe de todos e sem me mexer, na esperança que o tempo passe e me mostre que foi apenas uma alucinação e que vou acordar ouvindo meu filho chamar: mamãe, mamãe, mamãe... Assim, como eles fazem nessa idade, que não param de repetir enquanto não obtém uma resposta...

Mas, não adianta. A história não segue como sonhei. Ainda assim, é linda. Vivemos vida, não sonhos. Porque meu filho não vem chamando mamãe, mas é capaz de me tirar desse torpor apenas com seu olhar incomparável, e me manda aquele sorriso mais lindo do mundo, e corre, sobe na cama, exige meu colo e fica ali, abraçado comigo. Ali, só nós dois, eu percebo que está tudo certo, que tudo é como deve ser. Que as terapias não são castigos, são oportunidades. Que eu não entendo o que ele quer, mas estamos em constante evolução em nossa comunicação. Que meu filho vai, em seu tempo, desenvolver todo seu potencial. Que o amor é perfeito. Que meu filho é perfeito. Que todos temos limitações. Que meu lugar é ali, com ele nos braços. E eu nunca quis outro lugar.

Talvez, Eduardo seja um espírito tão iluminado e evoluído que veio diferente, assim, só para me ajudar. Ele me torna uma mãe muito melhor do que eu jamais poderia ter sido, se não fosse a mãe dele.

Então, descubro que Eduardo é a cavalaria que tanto preciso. Tudo está nele. E, então, eu constato que minha única opção é sorrir e ser feliz, abraçada com o maior e melhor e mais lindo presente que a vida poderia me proporcionar.

4 comentários:

Michela Harinck disse...

Ale querida, sei o que vc ta passando. Mas tenha fe mesmo, pq as coisas boas acontecem. Pode demorar, as vezes um pouquinho ou as vezes um montão mas elas vao acontecer. Vc e uma guerreira. Um grande abraço!

Bislu disse...

Oi Alê, me indentifiquei muito com seu relato, passei por tudo isso que vc passa, e senti td o que vem sentindo, mas no fim td dá certo, sabemos que tem um Deus que nos fortalece todos os dias para podermos continuar cda etapa e funçãoque nos foi impultada, mas pe com grande alegria que te digo valeu a pena, meu bebê hoje tem 18 anos e são novos desafios, mas sempre vencendo e vc vai vencer todos tbm, força, vc é uma vitoriosa. Bjus
Luciana Pires, João Pessoa

Geovana Centeno disse...

oi querida vim parar no teu blog pela Daniela mae da Gica...sou mãe de um casal, meu filho mais velho tem 9 anos e é uma criança tipica, ja a minha princesa é com a Gica, como o teu Eduardo crianças lindas e muita amadas...

a cada palavra tua me vi ai, e fiquei com lagrimas nos olhos, pois a noite e o chuveiro são o meu refugio para o choro, não é facil ser mãe...

sabe que hoje eu estava olhando para Mariana, ela estava dormindo, e fui cobri-la e fiquei admirando, como é que o amor da gente pode ser maior que tudo, quando fiquei gravida dela, pensei será que conseguirei dividir esse amor, ja que tinha o caio com 5 anos, será que vou amar ela como eu amo o
Caio e pra minha surpresa, a amo e muito, que chega me sufocar, engasgar na garganta e chega a dor no peito, mãe é isso né...

compartilho das mesmas angustia que a tua, o processo é longa querida, não podemos esmorecer, eu sei o quanto é dificil, a mariana ainda nem foi pra escola, e tu imagina a angustia que ando, temo medo de tudo e de todas ja que ela não fala ainda direito...

sabe hoje estava falando pro meu marido, eu estou levando agora, ja fazem quase 2 anos de diagnostico, mas nunca irei aceitar, jamais, e se esse diagnostico não mudar, tenho fé que mude...nunca irei aceitar, ate o final da minha vida e quando chegar no céu, se eu for pro céu, irei bater um papo com Deus...o porque de tudo isso, vejo outras crianças na idade dela e fico frustrada, triste, porque a filha é saudavel e deveria seguir assim como as outras, mas faze o que, o que podemos estamos fazendo, muita terapia e apesar de tudo tenho que agradecer a Deus por cada progresso, agora começou a soltar palavras e estou muito feliz...

escrevi demais, mas o que queria te dizer mesmo, é que tu não esta sozinha, como muitas vezes eu pensei, tenha fé mesmo que as vezes pareça dificil, acredite...

beijos na dupla que deve ser muita linda, te cuida.

Geovana Centeno
http://minhaflormariana.blogspot.com.br/

Anônimo disse...

Muito emocionante, obrigada por seu blog......
Lu (Bruno)

Real Time Web Analytics